Por Ricardo Brito e Lucinda Elliott
BRASÍLIA/MONTEVÍDEO (Reuters) – A América do Sul está vendo um aumento nos casos da doença transmitida por mosquitos dengue durante o verão do hemisfério sul, levando o Brasil a lançar uma nova campanha de vacina, enquanto na Argentina muitas lojas ficaram sem repelentes contra insetos.
Com 2023 já tendo estabelecido um recorde de casos de dengue na região, a Argentina viu um aumento acentuado na doença que é endêmica em grande parte da América Latina. Embora muitas vezes assintomática, a dengue pode ser fatal.
O Brasil começou este mês a pulverizar inseticida em caminhões enquanto a doença se espalha por regiões anteriormente não afetadas, enquanto hospitais no Paraguai criaram clínicas noturnas para atender os doentes devido à elevada atividade da dengue.
A Argentina registrou mais de 12.500 casos da doença no último mês, de acordo com o último boletim oficial de saúde, um grande salto em relação ao mesmo período do ano anterior, levando a advertências de saúde e escassez de repelentes de insetos.
“O repelente se esgotou em todos os lugares, havia literalmente nuvens de mosquitos”, disse Laura Ledesma, moradora de Buenos Aires, à Reuters na capital argentina, antes de acrescentar que havia sinais de que a situação havia começado a melhorar.
“As coisas parecem estar mais administráveis do que no início de janeiro.”
No Brasil, onde a dengue é frequentemente chamada de febre quebra-ossos pelas fortes dores nas articulações que causa, os casos mais que dobraram na primeira semana de janeiro em comparação com o mesmo período do ano passado. O Brasil se tornará o primeiro país do mundo a oferecer uma vacina contra a dengue através do sistema público de saúde, o que as autoridades disseram que poderá começar dentro de alguns dias.
A América do Sul e outros países estão a assistir à propagação da dengue exacerbada à medida que o aumento das temperaturas e o padrão climático El Niño no Pacífico contribuem para temporadas prolongadas de dengue e para a propagação geográfica de infecções, dizem os cientistas.
“A mudança climática ampliou o alcance da reprodução dos mosquitos, tanto nas Américas quanto no mundo”, disse Thais dos Santos, especialista em arbovirais, ou doenças transmitidas por insetos, na Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), à Reuters.
Os dados da OPAS mostram que o ano passado superou o recorde anterior de 2019 para casos de dengue nas Américas, com cerca de 4,2 milhões de casos e 2.050 mortes. Grande parte disso ocorreu no chamado “Cone Sul” da América do Sul.
Espalhados por mosquitos, os surtos de dengue geralmente ocorrem três a cinco anos após uma epidemia anterior. Os meses de verão do sul, de dezembro a fevereiro, trazem condições ideais de calor e umidade para a reprodução dos mosquitos, espalhando a doença potencialmente mortal que pode causar febre alta, dores musculares e hemorragia interna.
Paraguai e Uruguai emitiram alertas epidemiológicos para a doença em dezembro, após chuvas intensas, já que a água parada também proporciona condições ideais para a reprodução do mosquito.
Moradores de Brasília esta semana faziam fila em frente a instalações médicas temporárias preparadas para testes de dengue, já que o número de casos na capital brasileira aumentou até 646% nos primeiros 20 dias de janeiro em relação ao ano passado.
Caminhões que pulverizam inseticida nas áreas mais atingidas foram mobilizados nas chamadas operações de “nebulização” para retardar a transmissão.
Nelson Diego, 37 anos, que testou positivo para dengue no bairro Recanto das Emas, em Brasília, onde a fumigação está em andamento, disse que estava sentindo dores musculares e fadiga por causa da doença, embora alguns dias fossem mais difíceis do que outros.
“Hoje é um dos melhores dias porque ainda consigo abrir os olhos”, disse ele. “Eu tinha muitas dores nas articulações e não conseguia andar antes.”
(Reportagem de Lucinda Elliott em Montevidéu e Ricardo Brito em Brasília; edição de Adam Jourdan e Bill Berkrot)